Após sofrer um acidente de trânsito no Sul do Espírito Santo e quase perder a vida em dezembro de 2022, a advogada Karina Vaillant Farias, de 27 anos, se tornou exemplo de força, fé e superação. Pouco mais de um ano depois de ser atropelada, Karina já voltou a praticar atividades físicas e descobrir esportes novos. Depois de 8 cirurgias e um processo longo, a advogada foi liberada para voltar aos exercícios físicos. Amante de corridas e esportes, Karina também voltou à musculação e contou e detalhes sobre a conquista. "Depois dessa última cirurgia que fiz, no dia 26 de agosto, já comecei a fazer fisioterapia desde o dia seguinte. Claro que na cama, inicialmente. Os 15 primeiros dias foram os dias mais críticos, mas depois o corpo super acostuma. Então eu consegui começar a fazer fisioterapia no consultório, e logo depois, cerca de um mês e meio, eu consegui voltar pra musculação bem devagar e bem aos poucos, algo bem progressivo mesmo", comentou. Para ela, poder se exercitar novamente, ainda com o fixador externo na perna, representa um grande marco em sua recuperação.
"Essa conquista de conseguir fazer atividade física para mim é primordial. Acho que não só para o corpo, mas para a mente, Porque é algo que realmente edifica a minha existência. Eu amo fazer atividade física. Então, tenho um prazer, não me vejo sem fazer isso", disse.
Novos esportes e descobertas
Embora tenha voltado a praticar a corrida levemente, Karina ainda não pode pedalar pelas ciclovias devido às limitações do fixador. No entanto, a atleta passou a desafiar os limites todos os dias na própria casa, além de descobrir novos esportes. "Eu fazia triátlon também, mas agora não consigo pedalar. Comprei um rolo para a minha bicicleta, para eu não precisar ir para a rua, então eu pedalo e malho todos os dias. Consigo dar uma caminhada contínua de cinco quilômetros. Por enquanto é isso. Dei também uma remada na Canoa Havaiana esses dias, tentando um esporte novo".
Em entrevista ao Folha Vitória, Karina Vaillant explicou que ainda está sob tratamento, atualmente na fase de retirada dos fixadores. Segundo ela, o centro das dores está na bacia fraturada. O fixador deve ser retirado no próximo dia 25. "A minha bacia ainda está meio que fora do lugar, é onde eu sinto dor. Não tenho dor na perna, graças à Deus. Onde eu sinto dor é na Sínfise púbica, isso me causa dor se eu andar muito, fizer muita coisa no dia, fico bem exausta. A fisioterapia, antes eu estava fazendo todos os dias, tem um mês e meio que eu faço duas vezes por semana", detalhou.
Acerca do processo de recuperação, a atleta contou que, anteriormente, precisou colocar uma haste medular dentro do osso. "Foi um processo longo, doloroso. Porém, como estava me dando bactéria, eu precisei tirar essa haste. Por isso, uso fixador externo. Antes de tirar, os médicos tentaram abrir, lavar, trocar essa haste, mas nada resolvia. Então, eu precisei retirar realmente". Após o atropelamento, Karina passou 40 dias internada, voltou para casa, porém, logo depois retornou ao hospital. "Passei por diversas idas e vindas no hospital, foi um período bem longo. Quando eu não estava internada, estava com um cateter profundo para tomar antibiótico, devido à bactéria. Eu precisava ir duas vezes por dia, para tomar o medicamento na Santa Casa. Foi um processo bem longo e doloroso". Para a atleta, a parte mais difícil do tratamento ocorreu quando ela perdeu a esperança de um progresso. "Foi quando eu estava no tratamento, mas não tinha progressão, parecia um tratamento paliativo e sempre acontecia a mesma coisa, a questão da bactéria. Então isso me consumia muito, eu já não tinha esperança. Na minha cabeça, parecia que a qualquer momento o pior poderia acontecer. Então, acho que a pior coisa que pode acontecer é você perder as esperanças, quando você perde as esperanças, a fé que vai dar certo, você perde tudo", disse.
Por meio da força de amigos e da fé em Deus, Karina conseguiu seguir adiante apesar do quadro crítico. Apesar das sequelas, a advogada contou estar grata pela vida. "Deus interviu devido as muitas orações, foi o poder de Deus mesmo. Porque quem viu ali mesmo a situação pensavam que eu havia morrido. Todos os médicos disseram: 'olha, a gente jamais pensou que você ia sobreviver, e você esta aí hoje'. Então sou extremamente grata". Além da ajuda de familiares e amigos, a história de Karina ganhou reconhecimento de pessoas desconhecidas, que auxiliaram nos custos do tratamento por meio de uma arrecadação online. "Tantas pessoas oraram por mim. Pessoas que eu nunca vi me param na rua para falar que oraram por mim, que sabem do meu caso. Ainda existem muitas pessoas boas no mundo. Vou ter sequelas? Vou, mas estou aqui com a minha perna, andando, estou vivendo a minha vida. Claro que tudo muda, não é da mesma forma, mas eu acho que me tornei uma pessoa mais grata. Sempre foi um fato para mim que a vida é um sopro, nós somos muito vulneráveis. Não somos nada, apenas estamos. Tudo é passageiro, isso eu sempre soube", comentou.
Em relação ao futuro, Karina explicou estar se reencontrando, pois o impacto do acidente não foi apenas físico, mas também psicológico. "É tempo de seguir adiante, reencontrar um pouco do sentido da minha vida. Eu tinha muitos desejos e sonhos, estava tudo encaixado, mas saiu do lugar. Então eu me perdi, perdi um pouco dos desejos, das vontades, acho que preciso me realocar, me reerguer mentalmente. Por mais que eu seja uma pessoa forte, não é fácil, eu preciso me reorganizar para ter sede de fazer as coisas igual eu tinha. Isso vai acontecer com a minha melhora progressiva". Para todos que possam enxergar em Karina uma fonte de inspiração para alcançar os objetivos, a advogada destacou que lutar é essencial. "A mensagem que quero deixar é: tenha um propósito, um objetivo. Depois que fizer isso, trace planos para alcançar e não meça esforços até conseguir. Se você tiver que fazer algo, faça. Não adianta pedir a Deus a vitória de uma luta que você não luta. Então eu sempre lutei, é o diferencial. Pedir a Deus e fazer sua parte, porque se ficar sentado esperando o milagre, não é justo com quem luta e batalha. Isso para tudo na vida, doença, empregos, objetivos, faça o que tiver que ser feito, a sua parte, e peça a Deus por aquilo que você não pode fazer", finalizou.
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Em dezembro de 2022, Karina foi atropelada quando fazia uma caminhada com um grupo de atletas. O acidente aconteceu na BR-482, na altura do bairro Tijuca, entre Cachoeiro de Itapemirim e Marataízes, no Sul do Estado. O motorista do carro que atingiu Karina, Gilmar Almeida dos Anjos, estava embriagado. Ele está preso desde então no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Cachoeiro de Itapemirim. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Justiça (Sejus). Karina teve traumatismo craniano, fratura exposta no fêmur e traumas na face, na clavícula e no metatarso (pé). Em maio de 2023, Gilmar teve o pedido de liberdade provisória negado. Ainda segundo a sejus, ele já esteve preso entre setembro de 2013 e novembro de 2021 por furto, roubo e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor.